REJEITADO  POR  DOIS  GRANDES  INTÉRPRETES,  “CARINHOSO”  FOI  LANÇADO  POR  ORLANDO SILVA  E  TORNOU-SE  A  MÚSICA  MAIS  ADMIRADA  PELOS   BRASILEIROS NO SÉCULO XX.
O primeiro a ser procurado para gravar “Carinhoso”  foi  Francisco Alves,  o “Rei da Voz” (18/8/1898-27/9/1952), na  época,  o cantor mais famoso do país,  que  não deu  muita  importância  à música que lhe foi  apresentada.  Outro  ótimo  cantor,  bem   menos  badalado,  que  atendia por  Carlos Galhardo,  o “Cantor que dispensa adjetivos”  (24/4/1913-25/7/1985),  achou melhor   não  se  arriscar com aquele  choro,  antes  só instrumental,   criado por um  flautista e  compositor  de respeito  chamado  Alfredo da Rocha Vianna,  o Pixinguinha (23/4/1897-17/2/1973) -, e que acabara de receber  inspirados  versos  compostos  em  tempo recorde   por  João de Barro, o  Braguinha  (29/3/1907-24/12/2006), um  excelente  autor carnavalesco,   dono  de  alguns dos  mais expressivos  sucessos:   “As pastorinhas”,  “Gato na tuba”,  “Chiquita  bacana”, “Touradas de Madrid” , “Yés, nós temos bananas”, “ Pirata da Perna de Pau”  e  “Balancê”.
 
       
 Pixinguinha - Foto: álbum RCA Victor 1998.                 Braguinha (João de Barro). Foto: Sônia Almeida/Doc JB.1992.
O ano era 1937 e vivia-se a efervescente era do rádio, período agitado com a recente inauguração da importante rádio Nacional (1936), o lançamento do microfone elétrico e a consagração de grandes ídolos populares como Vicente Celestino, Chico Alves, Sílvio Caldas, Carmem e Aurora Miranda, Noel Rosa, Lamartine Babo, Almirante, Mário Reis, Ary Barroso, Ernesto Nazareth, Zezé Fonseca, Custódio Mesquita, Aracy de Almeida, Benedito Lacerda, Pixinguinha, Assis Valente, Radamés Gnattali, Mário Lago, Ataulfo Alves, Orquestra Tabajara, Alvarenga e Ranchinho, uma verdadeira seleção de astros e estrelas que brilhou intensamente no rádio, teatro, cinema, shows e em grandes espetáculos , mais tarde levados para a televisão .
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| Orlando Silva - Foto: álbum RCA Victor 1998 | 
Interessante  na  história ,  é que,   após   “Carinhoso”  ter  ficado  na prateleira  por muito tempo  e  ter  sido  rejeitado   por dois  respeitados  cantores ,  a gravadora RCA   lançou a música   em  maio de 37, na  voz de  um  outro astro  que  começava  a  se destacar  e chamava atenção pelo  seu talento  e dicção perfeita.   No  lado B  do  disco de 78 rpm,  foi  colocada a composição  “Rosa” (“Tu és divina e graciosa”...), também de Pixinguinha  e  a  preferida  de dona  Balbina -,  mãe de Orlando Silva,  que  se transformaria  igualmente   em  enorme  sucesso  do  repertório  do  artista  considerado  o mais perfeito  intérprete  da  música popular brasileira,  o  primeiro a acreditar e  gravar a melodia  apontada   “A música do século  20”,  em  votação  aberta  na internet,  “apenas”  63 anos  depois.  E  “Carinhoso”  tornou-se  uma  das  composições  mais  gravadas,  nas mais  diversas  vozes , arranjos  e  versões ,  vindo a ser consagrada  e  admirada  por  todos ,  que a  cantam  em coro  e  sem  ensaio.
Essas lembranças sobre Orlando Silva (1915/1978) e “Carinhoso” (1937) vêm à tona pelo fato de o nosso inesquecível intérprete estar sendo celebrado pela passagem dos cem anos de seu nascimento, ocorrido em 3 de outubro de 2015, motivo de homenagens em programas especiais, lançamento de recital, exposição e sarau, reedição de livro biográfico, show-homenagem, disco-comemorativo e documentário sobre a vida do grande astro que marcou época na MPB e faleceu aos 62 anos, no Rio de Janeiro.
Essas lembranças sobre Orlando Silva (1915/1978) e “Carinhoso” (1937) vêm à tona pelo fato de o nosso inesquecível intérprete estar sendo celebrado pela passagem dos cem anos de seu nascimento, ocorrido em 3 de outubro de 2015, motivo de homenagens em programas especiais, lançamento de recital, exposição e sarau, reedição de livro biográfico, show-homenagem, disco-comemorativo e documentário sobre a vida do grande astro que marcou época na MPB e faleceu aos 62 anos, no Rio de Janeiro.
Para matar saudade  e  para os mais jovens  aprenderem a  admirar,  vale a  pena ouvir aqui  a gravação original de “Carinhoso”  com Orlando Silva  acompanhado  pelo  Conjunto Regional  RCA  Victor.
Colaboração de  Hamilton  Gangana,  sócio-fundador do Clube do Choro de BH. 
Fontes:    Folha de S.Paulo,  O Globo,  Caixa  Orlando Silva, O Cantor das Multidões (3 CDs, 66 músicas)  lançado  em 1998 pela  RCA/BMG  com  apresentação do  jornalista  e  escritor  Ruy Castro, em encarte sob o título "Caprichos do destino" .
