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27 de julho de 2020

Abel Ferreira: um sopro para a vida toda.

Abel Ferreira era mineiro de Coromandel
Mineiro de Coromandel, Abel Ferreira viajou o mundo levando e levado pela melhor música. Nascido em 15 de fevereiro de 1915, este grande instrumentista tocou a vida toda. Aos cinco anos tocava acordeon, aos sete, flauta de bambu e aos 12 depois de ter-se iniciado por conta própria em teoria musical através de um método da década de 1920 chamado “Artinha”, experimentou pela primeira vez uma clarineta de 13 chaves, sob a orientação de um professor de Coromandel, de nome Hipácio Gomes. E este nome é para ser lembrado, pois Abel Ferreira não teve nenhum outro professor de música, nem antes, nem depois. 

O contato com o saxofone veio aos 15 anos de idade; conta-se que, sabendo da existência de um sax alto numa outra cidade de Minas Gerais, Abel Ferreira viajou horas de trem apenas para conhecer o instrumento, que nunca havia visto. Aprendeu sozinho. Embora intuitivo, Abel tinha ouvido absoluto e aprendeu a escrever música, dominava a teoria musical, fazia arranjos e tocava piano.

Abel, com o clarinete sempre ao seu  lado 
Aos 17, Abel mudou-se para Belo Horizonte e passou a tocar sax alto e tenor, apresentando-se na Rádio Guarani. Em 1935 foi para São Paulo, ingressando na orquestra de Maurício Cascapera. Em seguida regressou a Minas Gerais mudando-se para Uberaba, onde se tornou diretor artístico da emissora de rádio local. Nessa época participou de um show em Poços de Caldas MG, em que acompanhou as irmãs Carmen e Aurora Miranda.
Dois anos após, voltou a morar em Belo Horizonte e tocou com J. França e sua Banda. Com o mesmo grupo apresentou-se em São Paulo, em 1940, e mais tarde com Pinheirinho e seu Regional, na Rádio Tupi paulistana. Pela Columbia de São Paulo e acompanhado pelo regional de Pinheirinho, gravou em 1942 suas primeiras composições: o choro Chorando baixinho, em solo de clarineta, e a valsa Vânia (composta em homenagem à sua filha), em solo de saxofone. 

No ano seguinte foi para o Rio tocar nas rádios e com Ferreira Filho e sua Orquestra, no Cassino da Urca. No ano de 1944 lançou uma nova gravação de suas primeiras composições, dessa vez com Claudionor Cruz e seu Regional. Em 1945 e 1946 tocou, respectivamente, nas orquestras de Vicente Paiva e Benê Nunes, apresentando-se em cassinos e na Rádio Globo. Com esses conjuntos musicais e com o seu grupo, formado em 1947, acompanhou vários cantores importantes da época, como Sílvio Caldas, Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Marlene, Emilinha Borba e outros.

Em 1949 ingressou na Rádio Nacional, onde passou a se apresentar como líder da Turma do Sereno; tocou no mesmo ano com Rui Rei e sua Orquestra, gravando na Todamérica seu Choro Acariciando. Pela mesma gravadora, em 1950 gravou Polquinha Mineira ao saxofone o Choro Doce Melodia, ao clarinete. Ambas de sua autoria. Com Paulo Tapajós, seu companheiro na Rádio Nacional, formou em 1952 a Escola de Ritmos, viajando por dois anos por todo o Brasil.

Abel Ferreira, legítimo herdeiro da categoria
do clarinetista Luís Americano.
Viajou em 1957 com seu conjunto em tournée por Portugal. Fez duetos memoráveis com Zé da Velha e com Pixinguinha, com quem gravou Ingênuo em 1958, ano que também passou a integrar o grupo "Os Brasileiros", do qual participavam Shuca, Trio Yrakitan, Dimas, Pernambuco e o maestro Guio de Morais. Com o grupo excursionou para vários países europeus divulgando a música brasileira e gravou ainda o LP "Os brasileiros na Europa". Viajou pelos EUA e Havaí, com o pianista Benê Nunes, em 1960, e pela Argentina com Waldir Azevedo, em 1961.  

Abel voltou à Europa em 1964-1965, gravando nesse último ano o disco "Abel Ferreira e sua turma". Visitou a URSS e outros países europeus em 1968. Na década de 1970, principalmente a partir do lançamento do LP "Pra seu governo", de Beth Carvalho, na etiqueta Tapecar, tornou-se um dos músicos mais requisitados em gravações e shows, como acompanhante, no sax e na clarineta.

Legítimo herdeiro da categoria do clarinetista Luís Americano, aposentou-se no rádio em 1971. Com a redescoberta do choro e a criação do Clube do Choro, no Rio de Janeiro, em meados de 1975, voltou à atividade, passando a apresentar-se ao lado de Raul de Barros e Copinha, em vários shows de teatro. 
O fato é que Abel trouxe a música dentro de si e dela não mais se separou. Nem de seu instrumento, o clarinete, que carregava para todo lado, lembrando os tempos de moleque em que desmontava peça por peça para tê-lo sempre nos bolsos.
Até seus últimos anos de vida continuou soprando o instrumento, em shows com Copinha e Raul de Barros. Abel faleceu em 13 de abril de 1980.

Na temporada de 1977 do Projeto Pixinguinha, Abel Ferreira e Ademilde Fonseca, ele nos sopros, ela na voz apresentaram clássicos de Pixinguinha, Waldir Azevedo, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga.

Nas contas do próprio Abel, ele compôs mais de cinquenta músicas. Além das anteriormente citadas, também é autor de  Luar de Coromandel, Chorinho do Suvaco de Cobra, Baião no deserto (com Paulo Tapajós e José Menezes de França), Aquela noite, Balança mais não cai, Beijinho na Orelha, Bobo alegre, Haroldo no Choro, Luar de Caxambu, Levanta poeira, O avião, O casamento do Genaro, Sonho negro, Tango da meia-noite, Uma noite em São Borja (com José Menezes), Rio meu ChoroSururu no galinheiro, entre outras.
Entre seus Choros que se incorporaram aos clássicos instrumentais: Chorando baixinho é um exemplo. E para nossa audição, trazemos o vídeo recém produzido pelo instrumentista mineiro, Daniel Toledo, violonista de sete cordas do conjunto Regional da Serra, expoente grupo da cena do Choro belo-horizontino. Apreciem.


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A composição "Chorando Baixinho" foi objeto da Tese de Wagno Macedo Gomes. Com o título CHORANDO BAIXINHO DE ABEL FERREIRA: aspectos interpretativos do clarinetista compositor e do clarinetista Paulo Sérgio Santos, a dissertação foi apresentada em 2007 ao Programa de Pós Graduação da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Música teve como orientador o Prof. Dr. Fausto Borém.
Para ler a dissertação, siga o link.