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21 de julho de 2020

100 anos da Divina Elizeth Cardoso e seu renascimento digital.

A Divina Elizeth Cardoso
Elizeth Moreira Cardoso nasceu em São Francisco Xavier, em 16 de julho de 1920 e assim nos traz a alegria de celebrarmos o seu centenário, aplaudindo sua carreira inigualável como cantora e intérprete e a referenciando como uma diva, cujo epíteto de “A Divina” lhe eleva à altura de sua importância para a música brasileira. 

Era filha de Dona Moreninha, baiana que gostava de cantar e um enfezado seresteiro, seu Jaime que era também fiscal da Prefeitura. Apesar dos zelos que lhe cercava o pai, Elizeth aos 5 anos de idade e “muito exibida”, já subia ao palco da Sociedade Familiar Dançante Kananga do Japão, localizada na Praça XI, para mostrar suas artes cantando a marcha “Zizinha”. Nos circos improvisados nos quintais da vizinhança e na célebre Casa Tia Ciata, para onde escapulia de vez em quando, Elizeth também cantava. Aos 10 anos teve que largar os estudo se já aos 13 começou a trabalhar em um varejo de cigarros e em atividades como pedicure, cabeleireira, telefonista, peluqueira, sempre para ajudar nas necessidades financeiras de casa. 

Elizeth conheceu Jacob aos 15 anos de idade e
seguiu vida afora numa parceria musical
Em sua própria festa de aniversário, aos 15 anos, ela conheceu Jacob do Bandolim que desejou leva-la para cantar no rádio. Impedida pelo pai, adiou sua estreia que veio acontecer em 1936, no programa “Suburbano”, da Rádio Guanabara, onde ali também estavam se apresentando seus ídolos Noel Rosa, Marília Baptista, Araci de Almeira e Vicente Celestino.
Na sequência, começou a participar esporadicamente em programas na Rádio Transmissora Mayrink Veiga. Em 1939, conseguiu uma vaga em uma companhia teatral e foi excursionar pelo Brasil, quando conheceu o cavaquinista e humorista Ary Valdez (Tatuzinho), com quem veio a se casar e de quem se separou ao retornar ao Rio e já estando grávida. Para sustentar o filho, trabalhou como Taxi Girl, passando logo em seguida a atuar como Crooner nos mesmos dancings cariocas, no Salão Verde em São Paulo e na Orquestra do Maestro Cerejeira. 

Durante sua carreira, Elizeth cantou como
crooner e em várias emissoras de rádio.
Em 1948, durante uma temporada no Dancing Belas Artes, ela conheceu o compositor Evaldo Rui, irmão do radialista e compositor Aroldo Barbosa, que lhe conduziu a uma participação na Rádio Mauá, que culminou em uma contratação pela Rádio Guanabara, onde tinha começado sua carreira aos 16 anos. 

Seu primeiro disco 78''  finalmente foi produzido pela gravadora Star, através de uma contratação intermediada pelo já famoso compositor Ataulfo Alves. Este primeiro disco, onde estava registrada uma composição do próprio Ataulfo, sofreu um problema de prensagem e teve que ser recolhido à fábrica, adiando a oportunidade de ter sua voz divulgada través de um fonograma. 

De retorno aos trabalhos como crooner ela foi descoberta pelo cantor, compositor e divulgador Erasmo Silva que a conduziu para um contrato pela Toda América, gravadora onde também faziam parte do elenco Doris Monteiro e Ademilde Fonseca. Ali, em 1951, Elizeth gravou seu primeiro disco 78”, interpretando no lado A, um samba de Wilson Batista e no lado B, a “Canção de amor”, composta por Chocolate (Dorival Silva) em parceria com Elano de Paula (irmão de Chico Anysio e operador técnico da Rádio Guanabara) e que veio a se tornar um dos seus grandes sucessos e também lhe abriu as portas da Rádio Tupi, então vice líder de audiência nacional. 
A partir daí, sua carreira deslanchou através de participações em diversos filmes de Chanchada e Teatro de Revista produzidos na época, temporadas em shows em boates famosas e importantes contratos em outras rádios e emissoras de TV para apresentações ao vivo, no Rio e São Paulo. 

A partir de 1954, através de contrato pela Continental realizou várias regravações e editou seu primeiro LP que, no entanto, não alcançou grande sucesso à época. Seguindo para a Copacabana Discos se transformou na grande estrela da casa, onde fez uma belíssima carreira, ao lado de Ângela Maria e Inezita Barroso que também permaneceram nesta gravadora por várias décadas. Exatamente neste período, ganhou o epíteto de “A Divina” que lhe foi atribuído pelo produtor Aroldo Costa que, substituindo um colunista da época no “A Última Hora, foi assisti-la em um show e a definiu assim em uma crítica publicada naquele jornal. 

  A elegância sempre foi um dos seus traços
Em 1957 foi lançado seu primeiro disco pela Gavadora Copacabana, intitulado “Fim de Noite” e onde interpreta composições de Noel Rosa e outras de autores também importantes. Neste mesmo ano regravou composições de Fernando Lobo e clássicos da música brasileira, incluindo composição de Custódio Mesquita , um precursor das melodias modernas que a Bossa Nova iria estilizar. Também atuou na Revista “Mister Samba”, de Carlos Machado, quando cantou “É luxo só” composta por Ary Barroso e Luiz Peixoto, especialmente para ela. 

Cedida para o selo “Festa”, dirigido por Irineu Garcia e que se dedicava a gravações de poesia, ele gravou um dos seus discos históricos: “Canção do amor demais”, onde gravou composições de Vinícius de Moraes e Tom Jobim e com participações de João Gilberto ao violão. Em 1958 ela lançou “Retrato da Noite”, disco que regravou grandes canções com sua marca e contou com arranjos do consagrado maestro Radamés Gnatalli (apesar de seu nome não ter sido creditado na ficha técnica por razões contratuais). Em 1959 gravou um novo álbum cujo título “Magnífica” representava um outro epíteto dado a ela pelo importante cronista da época, Mister Eco. 

Na virada dos anos 60, aconteceu o grande momento de decolagem de sua carreira. Nesta época, viajou para Miami representando o Brasil em um festival e fez uma temporada de com grande sucesso. Bastante considerada pelos artistas e jornalistas , musa dos intelectuais da época , foi eleita a “Rainha dos Músicos”. Gravou novos discos, foi contratada pela Rádio Nacional, excursionou por Portugal e Espanha onde cantou ao lado de Ataulfo Alves o samba “Mulata assanhada” que fez grande sucesso também fora do Brasil e tornou-se um dos seus grandes emblemas. “A meiga Elizeth” foi uma série de 5 discos onde ela gravou neste período da carreira, sucessos memoráveis de Luiz Reis e Aroldo Barbosa como “Nossos momentos”, “Notícia de Jornal”, e outras de compositores como Dolores Duran que acabara de falecer tão precocemente e à qual ela faz uma homenagem cantando “A noite do meu bem” e “Pela rua”. 

Ela seguiu com novas gravações, lançando álbuns contendo composições com arranjos do maestro Moacir Santos e que marcou com sua voz e interpretação tão próprias. Gravou novamente composições de Luiz Reis e Aroldo Barbosa, Vinícius de Moraes, Baden Powell e trouxe para as novas tecnologias da época, regravações do início da sua carreira. 

Agora, já como uma grande estrela, viajou em tournée pelo Uruguai acompanhada pelo maestro Moacir Silva e Sambalanço e inicia uma nova fase de sua carreira musical. Em 1964, Elizeth seria a primeira cantora popular a postar-se diante de um naipe de cellos para interpretar a Bachiana nº5 de Villa-Lobos, nos recintos sagrados dos teatros Municipais de São Paulo e Rio de Janeiro. 

Outras gravações deram vez a muitos sucessos como “Manhã de Carnaval” de Antônio Maria e Luiz Bonfá que levou sua voz para todas as partes do mundo; “Nossos momentos”, “Magnífica”, “Naquela mesa”, novas músicas de Vinícius, em parceria com Baden e Moacir Santos, além de composições revelando novos autores como Paulinho da Viola e João Nogueira. 

Com a direção de Hermínio Bello de Carvalho, lançou o clássico álbum “Elizete sobe o morro” e deu início a diversos encontros musicais com novos artistas como Rafael Rabello e nomes consagrados da MPB como Nelson Cavaquinho. Seguiram-se shows Bibi Ferreira e o crescente círculo de amigos do qual faziam parte Antonio Maria, Vinicius de Moraes, Fernando Lobo, Eneida, Ary Barroso entre outros expoentes da MPB. 

Elizeth seguiu com o coração colecionando amores e a carreira conquistando troféus. Tantos que resolveu doá-los ao Museu da Imagem e do Som. Seguiu viajando pelo mundo, foi diversas vezes ao Japão onde gravou discos e era sempre ovacionada . Mas fiel, nunca deixa de ir saracotear no Bola Preta ou de sair de destaque em sua Portela. Ela seguiu, cantando e encantando como “Cantadeira do Amor” como bem lhe intitulou Hermínio Bello de Carvalho que também declarou: “não de lembro de outra cantora brasileira que tenha acumulado tantos adjetivos ao longo de sua vida, quanto Elizeth Cardoso". 

A discografia de Elizeth Cardoso é grande e seguiu até os anos 80. Década em que chegou a embalar seu primeiro neto e a gravar mais dois discos sucessivos. Um em homenagem a Ary Barroso, que em vida a consagrava como a grande voz do Brasil e outro e último com o  violão de Rafael Rabello e a voz densa e especialmente emocionada em “Todo Sentimento” de Chico Buarque. 
Toda esta emoção ela nos causou também quando, logo depois, em 7 de maio de 1990, vítima de um câncer,  ela partiu e o Brasil teve que se despedir da "Enluarada", da "Magnífica", da "Primeira Dama da Música Brasileira" e sua "Divina" Elizeth.

ELIZETH RENASCE EM FORMA DIGITAL

No momento em que celebramos os 100 anos de nascimento de Elizeth Cardoso,  temos como grande comemoração, o lançamento em streaming de uma parte muito considerável de sua obra. Este lançamento assinado pela Universal Music que promete 26 títulos da cantora e mais três playtlists exclusivas. Serão ao todo 17 álbuns de carreira, um coletivo, um EP com quatro faixas raras e sete compilações organizadas cronologicamente. Lembrando que já existiam 14 álbuns de carreira e cinco coletâneas acessadas nas plataformas. 

Desta forma, Elizeth nasceu no meio digital para um público que pode ser o mesmo do LP ou não. Fato é que Elizeth que conseguiu unir a tradição e a modernidade da música brasileira renasce aos 100 anos nas plataformas digitais e segue para sempre diva e divina e dona das maiores referências que a música brasileira já possuiu.


E como não poderíamos deixar de pedir um bis à Divina, rogamos: canta um Choro! Ela canta Pixinguinha e ainda chama Jacob do Bandolim e o Conjunto Época de Ouro . Apreciem.


"Carinhoso", choro-canção de autoria de Pixinguinha e João de Barro, surge aqui na magistral interpretação da Divina Elizeth Cardoso, acompanhada por Jacob do Bandolim e seu Conjunto Época de Ouro (Dino, Carlinhos, Jonas e Gilberto) e a participação especial de Rubinho Barsotti do Zimbo Trio na bateria. Consta que Elizeth Cardoso, um tanto enfastiada de cantar essa música, de tanto que a solicitavam em shows, tentou declinar dizendo que não sabia o tom. No entanto, Jacob deu o tom e Elizeth não viu outra saída que não fosse interpretar mais uma vez — e lindamente — esse clássico da música brasileira.
Gravação realizada na noite de 19.02.1968 em show que resultaria na série de LPs "Elizeth Cardoso ao Vivo no Teatro João Caetano", lançado pelo Museu da Imagem e do Som. Cesar Faria, violonista do Época de Ouro, não pôde participar desse show porque estava com hepatite.